Crítica ao individualismo metódico de Max Weber

Crítica ao individualismo metódico de Max Weber.

Caro moderador e Caros amigos cursistas,

Na parte que trata do "primado da complexidade do ser", página 21 do texto sobre a trajetória intelectual de Lukács, onde se diz que os complexos têm uma existência primária, mas que Lukács adverte que o complexo deve ser estudado como complexo para depois se chegar aos seus elementos e processos elementares - como a explicitação de uma sociedade. Afirma-se no texto uma crítica a Weber por ter partido de elementos complexos primários sem tomá-los como totalidade concreta, sendo equivocadamente tomados como elementos isolados da complexidade das relaçoes sociais do capitalismo ("organismo completo").

Nos parece que a crítica Habermasiana do trabalho, para a qual a ciência substitui o trabalho como meio de produção do valor, também pode ser tomado como exemplo similar a este de Weber[/b]. Habermas também parte de um complexo da vida cotidiana - o advento do que Hobsbawm chama de "tecnologização da ciência" (Era dos Extremos Cia das Letras, 2008). Mas aquele pensador da escola de Frankfurt incorre no mesmo erro de Weber. Habermas não levou em consideração a relação recíproca entre os complexos e o organismo completo, o sistema sóciometabólico do capital, como a integração necessária do trabalho vivo com o trabalho morto para a produção do valor e acabou por propor uma alternativa de sociabilidade (ação comunicacional) exterior ao mundo do trabalho.

Um abraço fraterno a todos!
Valricélio

Creio que precisamos fazer uma analise hermenêutica antes de fazer uma profunda crítica a Weber, pois ele querendo ou não ajudou ao Lukács a chegar a re-elaborar a interpretação do marxismo ocidental sobre o sentido, algo que Marx não deixa muito claro na suas obras. Precisamos não ser muito radical nas críticas, pois não existe uma teoria perfeita, mas é algo construído historicamente claro que Weber não é o caminho a verdade e a vida, mas graças a ele Lukács pode amadurecer sua teoria e fazer uma nova interpretação do marxismo.

Caro Vicente,

Concordo que devemos fazer uma análise mais hermenêutica sobre a crítica a Weber. Acho até que está aí um objeto de estudo importante. Mas a crítica deve ser radical no sentido de tomar a coisa pala raiz, embora tenha um aspecto de parcialidade e superficialidade, cabendo maior aprofundamento.

É inegável que Weber deu grande contribuição à análise da sociedade moderna ao tentar explicar a relação entre a ética protestante (conduta racional em relação ao trabalho, uma ética não só para o capitalista, mas também para os que trabalham) e o espírito do capitalismo (a busca pelo lucro, cujo instrumento é o reinvestimento do capital que se nutre na competição).

No entanto, penso que o mais importante não é a ética, nem o espírito, mas a base material sobre a qual se constituem as relações sociais materiais do trabalho (Enguita), que, por sua vez, determinam a ética e o espírito - já conhecida diferença entre idealismo e materialismo.

A crítica a Weber está posta como crítica ao método que embora partindo de elementos complexos primários (o fato de os que acumulavam capital e o reinvestia racionalmente eram protestantes) o isolou das relações materiais, pondo estes elementos complexos da vida cotidiana como estruturantes, sem considerar a recíproca determinação ente um e outro e entre ambos e a totalidade (organismo completo)... Mas esta crítica não induz necessariamente à regeição da totalidade das contribuições de Weber - que reconheço necessárias de ser aprofundadas entre nós.

A discussão é fértil neste campo, companheiro. E estou pensando que podemos até propor uma análise do tipo A Crítica ao individualismo metódico de Max Weber, Foucault, Kurz, Habermas, etc, à luz de Marx e Lukács.

Um abraço
Valricélio Linhares

Sem estender demais a questão, gostaria apenas de dizer que em Lukács não é possível identificar nenhum elemento weberiano. Lukács é radicalmente marxista, sem ter medo da palavra radical. Max Weber não pode ser equalizado a Marx, nem de longe. A velha "tríade" que as escolas de Ciências Sociais brasileiras costumam identificar como os "pais" da "sociologia" nada mais é do que uma mistificação. Marx não pode ser colocado no mesmo saco de Durkheim, Weber ou qualquer outro pensador do século XIX, Marx é um gigante perto deles - talvez apenas Hegel tenha a mesma magnitude. Apenas lembrar que o Economia e Sociedade de Weber foi uma tentativa de estabelecer uma teoria alternativa à colocada por O Capital. A "Ética Protestante", aliás, não é a melhor obra-referência para uma discussão em terreno weberiano. Sublinho: Lukács é um crítico de Weber, assim como de toda corrente sociológica herdeira do funcional-positivismo, seja em teoria seja em método. Texto raríssimo mas fundamental pra entender a posição teórica de Lukács é o seu "A destruição da Razão" - obra que não existe em língua portuguesa, há em espanhol e francês, até onde sei. Ali Lukács explicita toda a crítica ao irracionalismo alemão e ao ultra-racionalismo dos pensadores de matriz positivista.